Cunha Couto

Gestor de Crises

Guerra: Uma crise sem fim

CCBlog 129

Guerra é das crises que têm causas muito estruturadas, inclusive historicamente, e por isso sua solução é difícil e com longo e complicado pós-crise.

Estamos no século XXI, e é impressionante que terror e violência persistam em nossos dias, ainda por cima estruturando as guerras atuais, como na  Península Arábica, berço de importantes religiões. É como se, como humanos, estivéssemos andando para trás…

A respeito dessas posições antagônicas palestinas-judaicas, recorde-se uma profética citação de Ruy Barbosa, em seu livro “Cartas de Inglaterra”, escrito em 1896:

“A fragilidade dos meios de resistência de um povo acorda nos vizinhos veleidades inopinadas. Converte contra ele os fracos em fortes, os mansos em agressivos, os desinteressados em ambiciosos”.

Neste caso, em que o ataque terrorista do Hamas levou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a declarar guerra ao grupo (declaração que só deveria existir entre Estados Nações, mas, uma vez declarada, implicaria na observância das convenções de Genebra) e a lhe desferir um ataque considerado desproporcional, não há como bem descrever o horror das imagens transmitidas, nem a dor dos que viram seus entes queridos serem mortos.

“Gotas no oceano”

A inumanidade está sempre presente em todas as guerras, mas também, neste caso atual, a presença da barbárie e do terror. Há corpos empilhados e destruição por toda parte, incentivando o medo nos que permanecem vivos. A jornalista Eliane Cantanhede bem resumiu esse quadro na expressão “escalada do fim do mundo”.

Por outro lado, os impasses diplomáticos, não aprovando “cessar fogo” e “pausa e corredor humanitários”, agravam ainda mais a crise em seus vieses político e humanitário.

As poucas ajudas concedidas a entrar em Gaza foram chamadas de “gotas no oceano” pela Organização das Nações Unidas (ONU) ou “migalhas humanitárias” pelo articulista Leonardo Sakamoto, o que bem expressam suas dimensões diante da tragédia.

Lições da crise

Como em toda crise, lições aprendidas no decorrer dela devem ser registradas e algumas já podem ser citadas:

  • diante disso tudo, é preciso discernimento para odiar a guerra e não Israel ou a Palestina;
  • a paz é muito, muito mais do que a simples ausência de guerra;
  • não pode ser utopia ou algo fora da realidade a existência de dois Estados vizinhos, Israel e Palestina, vivendo em paz (afinal, o Brasil vive em paz com dez vizinhos há mais de 150 anos);
  • a pandemia da Covid-19 já nos havia mostrado que somos sete bilhões de pessoas conectadas, pois a saúde de alguém contaminado em qualquer parte deste nosso planeta afetará a de todos. Por isso, qualquer guerra terá reflexos em nós todos e em nossos países.

Por que, ao início, falei que será um longo pós-crise? Porque há toda uma sociedade a ser reconstruída nessa “cicatrização” da crise. Em especial, há que se cuidar das crianças que não morreram, mas foram feridas ou presenciaram seus entes queridos serem mortos ou estiveram perdidas em meio a destroços.

Em todas as guerras, as crianças são as que mais sofrem. Pior, imaginem isso acontecendo em meio a uma crise humanitária. Como recuperar essas crianças que estão vivendo o ódio, sem brincar, sem aulas (suas escolas/abrigos destruídos) ,desnutridas e com traumas psicológicos?

Sem dúvida, serão necessários muitos anos e gerações para recuperar a esperança dessa sociedade.

Por fim, cito duas frases do dramaturgo e poeta romano Publio Terêncio Afro:

“Sou um homem: nada do que é humano me é estranho”.

“Enquanto há vida, há esperança”.

Vejam como é difícil aplicá-las ao que está acontecendo em nossa década! Quanto de não estranheza na Humanidade e de esperança na vida ainda persistem, diante de tantos conflitos e guerras?

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