Uma das histórias atribuídas a Pelé é a de sua presença, na excursão do Santos Futebol Clube para jogos na África, em 1969, ter interrompido uma guerra civil na Nigéria, onde o clube brasileiro fora jogar contra a seleção local.
Ainda que hoje contestada por alguns estudiosos, não deixa de ser uma bela história.
Nascido na cidade mineira de Três Corações em 23 de outubro de 1940, Edson Arantes do Nascimento era filho de Celeste e do ex-jogador Dondinho.
Em 1956, iniciou no Santos sua carreira como jogador profissional.
Pela equipe paulista, Pelé ganhou 45 títulos, sendo dois mundiais, e marcou 1.091 dos seus 1.281 gols em 1.366 jogos, entre eles o milésimo gol, de pênalti, no Maracanã, em 1969, quando disse a famosa frase: “o povo brasileiro não pode esquecer das criancinhas”.
Como mostrado no filme “Pelé Eterno”, nesse mesmo ano de 1969, na passagem do Santos por países africanos, as forças rivais em uma guerra civil (iniciada em maio de 1967, quando a região do Biafra, no sudeste da Nigéria, se emancipou e finalizada, com mais de 2 milhões de mortos, ao final de 1970) declararam uma trégua para que Pelé e seus companheiros do Santos passassem com segurança entre Kinshasa e Brazzaville.
De concreto nessa história, ao menos uma rodovia foi mantida em paz para que o time passasse, demonstrando a importância do futebol. Mas, logo após esse episódio, a guerra teria prosseguido e só cessaria com a total dominação da região separatista.
Para alguns analistas, esse foi o início de Pelé como “embaixador do Brasil no mundo”, não só no da bola, contribuindo para uma simpática identidade de nosso país no exterior.
Efetivamente, Pelé, como rei do futebol, esteve à altura de encontros com famílias reais, papas e líderes mundiais.
Não por acaso, Pelé, como ministro dos Esportes de Fernando Henrique Cardoso, era quase sempre incluído nas viagens internacionais de FHC, pois sua presença funcionava como o que hoje é chamado de softpower nas Relações Internacionais.
Por tudo isso, a imprensa mundial homenageou Pelé em sua despedida, como são exemplos:
No Olé argentino, “Dor mundial: morreu Pelé”;
No colombiano El Tiempo, “O mundo chora o rei do futebol”;
No italiano Tuttosport, “Pelé, o mundo para”;
No francês Le Monde, “A morte do ‘Rei’ Pelé, lenda do futebol mundial”;
No espanhol El País, “Morre Pelé, ‘O Rei’ do futebol”;
No alemão Bild, “O melhor de todos os tempos”;
No inglês The Times, “Pelé, primeiro ‘superstar’ do futebol, morreu aos 82”.
Fica-nos, por fim, a lição da importância de um interlocutor com liderança e com credibilidade como fator de sucesso para uma intervenção numa crise, como foi, mesmo de forma efêmera, a interrupção numa guerra na África para a passagem, em paz, do Rei Pelé, nosso Embaixador do Futebol.
Como ouvi de um comentarista esportivo, nos despedimos de Edson Arantes do Nascimento, mas nunca de Pelé!